Aspectos biopsicossociais da depressão em diferentes contextos: uma visão a partir da teoria inflamatória dos transtornos mentais

Resumo

Introdução: A depressão constitui-se em um transtorno mental altamente prevalente na população. Existe uma complexidade desse transtorno mental que está associada principalmente à heterogeneidade clínica e a falta de uma teoria fisiopatológica consistente. O caráter multifatorial da depressão aumenta sua complexidade e entende-se que, além das características biológicas, é importante compreender os fatores psicossociais que englobam esse transtorno. Tanto a predisposição biológica, quanto o estresse psicossocial pode ativar a resposta inflamatória e esta parece ser uma ponte entre o modelo biopsicossocial das doenças e a teoria inflamatória dos transtornos mentais. Nos últimos anos vêm crescendo as publicações científicas que associam aumento do perfil inflamatório com depressão e outras Doenças Mentais Graves (DMG). Além disso, a pandemia de COVID-19 trouxe sérias consequências para saúde mental da população ao redor do mundo. No Brasil, as restrições impostas pela pandemia também trouxeram impacto para a população mas não se tinha dados relacionados a preditores psicossociais associados a sintomas depressivos. Objetivos: O objetivo desta tese é avaliar algumas variáveis biopsicossociais associadas à depressão em diferentes contextos. Esta tese é composta por 2 artigos. O primeiro artigo objetivou avaliar longitudinalmente a associação de citocinas inflamatórias séricas (TNF alfa, Interferon gama, interleucinas 2, 4, 6, 10 e 17) de pacientes com Depressão Maior e outras DMG (Transtorno Bipolar e Esquizofrenia) internados em uma unidade psiquiátrica, comparando com controles saudáveis e observando a relação com parâmetros clínicos. O segundo estudo objetivou avaliar transversalmente a prevalência de sintomas depressivos na fase inicial da quarentena de COVID-19 e sua associação com variáveis sociodemográficas e fatores psicossociais protetores conhecidos para a depressão, como espiritualidade, suporte social, resiliência e qualidade de vida. Resultados: Artigo 1: Foram avaliados 206 pacientes internados. 92 pacientes com Depressão Maior, 26 com Depressão Bipolar, 44 com Mania e 44 com Esquizofrenia. Os níveis de IL2 e IL6 diminuíram significativamente entre a admissão e a alta apenas entre os pacientes internados com Depressão Maior. De modo geral, os pacientes internados com DMG apresentaram maior nível de citocinas quando comparados aos controles, independentemente do diagnóstico. Houve uma melhora clínica durante a internação para todos os distúrbios avaliados. Artigo 2: Um total de 3274 participantes brasileiros preencheram o questionário online na fase inicial da pandemia de COVID-19. 23,67% dos participantes preencheram os critérios para episódio depressivo. Maior idade, espiritualidade, suporte social, resiliência e qualidade de vida foram associados a menos sintomas depressivos. Os sintomas depressivos foram maiores em mulheres, não brancas, solteiras, não remuneradas, com ensino fundamental ou médio, em suporte de saúde mental, sem prática de exercícios físicos e na presença de doenças crônicas. Duração da quarentena, suporte de saúde mental, presença de doença crônica, idade, sexo, espiritualidade, suporte social, resiliência, qualidade de vida e exercício físico, níveis mais baixos de escolaridade e ocupação não remunerada foram preditores de sintomas depressivos durante a quarentena de COVID-19. Conclusão: Artigo 1: Houve um aumento dos níveis de citocinas infamatórias séricas na Depressão que é comparável à outras DMG. Nos pacientes deprimidos a melhora clínica está associada a redução de IL2 e IL6. Estudos clínicos envolvendo medicações que interferem diretamente na via inflamatória podem ser úteis para os pacientes deprimidos. Artigo 2: Houve uma alta prevalência de Depressão durante a fase inicial do surto de COVID-19 no Brasil. Os achados podem ser usadas para formular intervenções psicossociais para melhorar a saúde mental durante a pandemia de COVID-19.