Estigma das doenças mentais: do vetor a patogenicidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25118/2763-9037.2023.v13.1100

Palavras-chave:

estigma, transtornos mentais, psicofobia, pessoal de saúde, estudantes de medicina

Resumo

Prezados editores e leitores do periódico Debates em Psiquiatria

É notável o crescente movimento para conscientização do estigma com as doenças mentais nos últimos anos. Em especial, destaca-se a campanha da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), orquestrada e coordenada pelo psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, desde 2014, intitulada Psicofobia, neologismo criado pelo coordenador para representar o estigma às doenças mentais. Felizmente, a ação vem conquistando a atenção e espaço nas redes sociais, meios de comunicação, nos encontros entre profissionais de saúde e, principalmente, entre as pessoas que são afetadas diretamente pelo preconceito. Na etimologia, o estigma deriva do grego "stígma" e do latim "stigma", ambos representando marca ou sinal. Ao passo que a palavra “preconceito” deriva da união do prefixo “pré”, significando anterioridade, e de “conceito”; portanto, refere-se a um juízo de valor ou opinião construída sem a adequada avaliação e compreensão das informações e definições. Desta forma, ao reconhecermos a psicofobia como um problema, há uma abertura saudável para falarmos e ouvirmos sobre os desafios vivenciados no curso das doenças mentais. Não obstante, crescem as informações, orientações e discussões no que tange a psiquiatria, desde a psicopatologia até os tratamentos. A partir destes movimentos, de forma análoga, é possível atingirmos os vetores que carreiam o preconceito frente às doenças mentais por meio da conscientização e, por conseguinte, desacelerar a patogenicidade da psicofobia. As doenças mentais comumente são percebidas por meio das distorções e estereótipos culturais preconcebidos, advindos na maioria das pessoas pela não compreensão do processo de adoecimento mental. No entanto, surpreendemo-nos ao consultarmos a literatura científica, e nos depararmos com estudos que evidenciam esses estigmas, também nos próprios profissionais de saúde, incluindo os da saúde mental. A revisão de literatura de Henderson et al. descreve essa situação ao apontar a diferença encontrada no atendimento dos profissionais de saúde com as doenças mentais em comparação com as doenças físicas, destacando atitudes discriminatórias, evitativas e desvalorização das queixas físicas em pacientes com algum diagnóstico de transtorno mental. De acordo com a revisão apresentada no artigo Corrigan e colaboradores, há uma associação entre o estigma das doenças mentais e um pior prognóstico em sua evolução. O impacto do estigma resulta em menor busca por ajuda profissional, atraso no diagnóstico, prejuízo na adesão ou abandono do tratamento, diminuição das oportunidades ao longo da vida e na autoestima, e aumento do isolamento social. A literatura também aponta para a deficiência na formação dos futuros profissionais de saúde no que diz respeito à conscientização e os desdobramentos dos preconceitos com as doenças mentais. Reforçando a importância em ampliar as discussões sobre essa temática nos meios acadêmicos. Na graduação de medicina, um estudo qualitativo observou relatos do impacto da psicofobia nos relacionamentos inter e intrapessoais de estudantes com transtornos mentais, como a exclusão no meio acadêmico, esforços para esconder a doença, o peso da autoestigmatização e os prejuízos com a falta de suporte e de recursos para a adequada inclusão dessa temática, seja na família, colegas e até mesmo da universidade. Diante desse contexto e dos movimentos de conscientização das repercussões negativas da psicofobia, gostaríamos de contribuir na expansão dessa temática de tamanha relevância na sociedade em ambientes observados no levantamento da literatura realizada e mencionados ao longo do texto, em especial serviços de saúde e ambientes acadêmicos, bem como estimular novas pesquisas científicas, projetos e recursos buscando compreender e promover avanços para que os estigmas sejam apenas lembranças de um passado que não volte mais.

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Biografia do Autor

Angela Bertoldo, Cursista, Pós-Graduação, Psiquiatria, Clínica Heidelberg, Curitiba, PR, Brasil

Heloisa Tartari Liberato Fernandes, Cursista, Pós-Graduação, Psiquiatria, Clínica Heidelberg, Curitiba, PR, Brasil

Pedro Henrique Pereira Alvim, Mestrando, Medicina Interna, Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba, PR, Brasil

Referências

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Publicado

2023-12-28

Como Citar

1.
Bertoldo A, Tartari Liberato Fernandes H, Alvim PHP. Estigma das doenças mentais: do vetor a patogenicidade. Debates em Psiquiatria [Internet]. 28º de dezembro de 2023 [citado 10º de março de 2025];13:1-4. Disponível em: https://revistardp.org.br/revista/article/view/1100

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