Atendimento às vítimas de violência sexual, Parte III: gravidez pós-estupro – revisão integrativa
DOI:
https://doi.org/10.25118/2763-9037.2017.v7.103Palavras-chave:
Violência sexual, gravidez indesejada pós-estupro, aborto, transtorno mentalResumo
O cuidado às vítimas de violência sexual exige conhecimento das evidências e treinamento. Exame e acompanhamento psiquiátrico da interrupção legal da gestação e atendimento a grupos familiares incestuosos revelam janelas de vulnerabilidades e oportunidades na prevenção das graves consequências dessas ofensas. O objetivo deste estudo foi reunir conhecimento crítico sobre gravidez indesejada pós-estupro, suas repercussões e abordagens, contribuindo para o desenvolvimento de protocolos e boas práticas. Tratase de revisão integrativa, coleta de dados em fontes secundárias (MEDLINE, EMBASE, PsycINFO), com base na experiência vivenciada pela primeira autora. Os seguintes descritores nas línguas portuguesa e inglesa foram utilizados: transtorno mental, violência sexual, estupro, gravidez e aborto. A amostra foi de 32 artigos científicos e dois da mídia leiga. Com o adoecimento mental e físico das vítimas de violência sexual, a economia mundial perde mais de 8 trilhões de dólaresano (hospitalizações psiquiátricas, dependência de álcool e drogas, suicídio, obesidade, enxaqueca, doenças cardiovasculares, problemas obstétricos), havendo maior peso estatístico para portadoras de déficit intelectual e adolescentes. Existem 37 unidades de saúde no Brasil que atendem gravidez pós-estupro – três possuem assistência psiquiátrica. Milhares dessas gravidezes não são reveladas, geram conflitos, riscos e desafios relativos aos filhos gerados. O aborto legal envolve dificuldades institucionais e emocionais dos profissionais e pacientes frente a decisões complexas e dolorosas antes, durante e após o procedimento. A prontidão cognitivo-afetiva para receber cuidados, quando tardia, compromete a vida de vítimas e seus filhos. Conclui-se que combater e prevenir a transmissão transgeracional da violência de gênero e gravidez pós-estupro deve ser prioridade de saúde pública.
Downloads
Referências
Verelst A, De Schryver M, De Haene L, Broekaert E, Derluyn I. The mediating role of stigmatization in the mental health of adolescent victims of sexual violence in Eastern Congo. Child Abuse Negl. 2014;38:1139-46.
Bueno S, Cerqueira DRC, Lima RS. Crimes contra a liberdade sexual, estupro. In: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública; 2015. p. 6, 7, 36, 48.
Mariz R. Exigências fora da lei dificultam acesso a aborto após estupro, diz pesquisa [Internet]. O Globo. 2016 Jul 06 [cited 2016 Dec 29]. oglobo. globo.com/sociedade/saude/exigencias-fora-dalei-dificultam-acesso-aborto-apos-estupro-dizpesquisa-16666374#ixzz47RxA2lQT © 1996 – 2016
de Souza MT, da Silva MD, de Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein. 2010;8:102-6.
Diniz D. Aborto e saúde pública: 20 anos de pesquisas no Brasil. Rio de Janeiro: UERJ; 2008.
Doyle A. Violence at home costs $8 trillion a year, worse than war – study [Internet]. Reuters. 2014 Sep 09 [cited 2016 Dec 29]. news.trust.org//item/20140909124726-66gkk
Rees S, Silove D, Chey T, Ivancic L, Steel Z, Creamer M, et al. Lifetime prevalence of genderbased violence in women and the relationship with mental disorders and psychosocial function. JAMA. 2011;306:513-21.
van Rosmalen-Nooijens,Sylvie H, Wong SH, Lagro-Janssen AL. Gender-based violence in women and mental disorders; JAMA. 2011;306:1862.
McCarthy-Jones S, McCarthy-Jones R. Body mass index and anxiety/depression as mediators of the effects of child sexual and physical abuse on physical health disorders in women; Child Abuse Negl. 2014;38:2007-20.
Gelaye B, Do N, Avila S, Carlos Velez J, Zhong QY, Sanchez SE, et al. Childhood abuse, intimate partner violence and risk of migraine among pregnant women: an epidemiologic study. Headache. 2016;56:976-86.
Tripodi SJ, Pettus-Davis C. Histories of childhood victimization and subsequent mental health problems, substance use, and sexual victimization for a sample of incarcerated women in the US. Int J Law Psychiatry. 2013;36:30-40.
Spinhoven P, Penninx BW, van Hemert AM, de Rooij M, Elzinga BM. Comorbidity of PTSD in anxiety and depressive disorders: prevalence and shared risk factors. Child Abuse Negl. 2014;38:1320-30.
Etain B, Aas M, Andreassen OA, Lorentzen S, Dieset I, Gard S, et al. Childhood trauma is associated with severe clinical characteristics of bipolar disorders. J Clin Psychiatry. 2013;74:991-8.
Alameda L, Golay P, Baumann PS, Ferrari C, Do KQ, Conus P. Age at the time of exposure to trauma modulates the psychopathological profile in patients with early psychosis. J Clin Psychiatry. 2016;77:e612-8.
Chen LP, Murad MH, Paras ML, Colbenson KM, Sattler AL, Goranson EN, et al. Sexual abuse and lifetime diagnosis of psychiatric disorders: systematic review and meta-analysis. Mayo Clin Proc. 2010;85:618-29.
Madeiro AP, Diniz D. Legal abortion services in Brazil - a national study. Cien Saude Colet. 2016;21:563-72.
Szejer M. Rape, incest and denials of pregnancy: unintended pregnancies. In: Tyrano S, Keren M, Herrman H, Cox J. Parenthood and mental health a bridge between infant and adult psychiatry. Oxford: John Willey & Sons; 2010. p. 63-6.
Salo FT. Parenting an infant born of rape. In: Tyrano S, Keren M, Herrman H, Cox J (editors). Parenthood and mental health, a bridge between infant and adult psychiatry. 2010. p. 289-99.
Scott J, Rouhani S, Greiner A, Albutt K, Kuwert P, Hacker MR, et al. Respondent-driven sampling to assess mental health outcomes, stigma and acceptance among women raising children born from sexual violence-related pregnancies in eastern Democratic Republic of Congo. BMJ Open. 2015;5:e007057.
Gisladottir A, Luque-Fernandez MA, Harlow BL, Gudmundsdottir B, Jonsdottir E, BjarnadottirRI, et al. Obstetric outcomes of mothers previously exposed to sexual violence. PLoS One. 2016;11:e0150726.
Perry R, Murphyk M, Rankin K, Cowett A, Haider S, Harwood B. “One problem became another”: a mixed –methods study of identi fi cati on of and care for pati ents seeking aborti on aft er sexual assault. Contracepti on. 2014;90:309.
Rouhani SA, Scott J, Burkhardt G, Onyango MA, Haider S, Greiner A, et al. A quanti tati ve assessment of sexual violence related pregnancy terminati on in eastern Democrati c Republic of Congo. Confl Health. 2016;10:9.
Vandamme J, Wyverkens E, Buysse A, Vrancken C, Brondeel R. Pre-aborti on counseling from women’s point of view. Eur J Contracept Reprod Health Care. 2013;18:309-18.
Brown S. Is counseling necessary? Making the decision to have an aborti on. A qualitati ve interview study. Eur J Contracept Reprod Health Care. 2013;18:44-8.
Ludermir AB, Valongueiro S, Araújo TV. Common mental disorders and inti mate partner violence in pregnancy. Rev Saude Publica. 2014;48:29-35.
Beja V, Leal I. Aborti on counselling according to health care providers: a qualitati ve study in the Lisbon metropolitan area, Portugal; Eur J Contracept Reprod Health Care. 2010;15:326-35.
Steinberg JR, McCulloch CE, Adler NE. Aborti on and mental health: fi ndings from the nati onal comorbidity survey-replicati on. Obstet Gynecol. 2014;123:263-70.
Andersson IM, Christensson K, Gemzell-Danielsson K. Experiences, feelings and thoughts of women undergoing second trimester medical terminati on of pregnancy. PLoS One. 2014;9: e115957.
Lindström M, Wulff M, Dahlgren L, Lalos A. Experiences of working with induced aborti on: focus group discussions with gynaecologists and midwives/nurses; Scand J Caring Sci. 2011;25:542-8.
Rasch V. Unsafe aborti on and postaborti on care - an overview. Acta Obstet Gynecol Scand. 2011;90:692-700.
Tripney J, Kwan I, Bird KS. Post aborti on family planning counseling and services for women in low-income countries: a systemati c review. Contracepti on. 2013;87:17-25.
Dundar B, Dilbaz B, Karadag B. Comparison of the eff ects of voluntary terminati on of pregnancy and uterine evacuati on for medical reasons on female sexual functi on. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2016;199:11-5.
Borsari CMG, Nomura RMY, Benute GG, Nonnenmacher D, Lucia MCS, Francisco RPV. O aborto inseguro é um problema de saúde pública. Femina. 2012;40:67.
Shah I, Ahman E. Unsafe aborti on: global and regional incidence, trends, consequences, and challenges. J Obstet Gynaecol Can. 2009;31:1149-58.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Debates em Psiquiatria permite que o (s) autor (es) mantenha(m) seus direitos autorais sem restrições. Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional (CC BY-NC 4.0) - Debates em Psiquiatria é regida pela licença CC-BY-NC