Consultório na rua e demanda espontânea na “Cracolândia”: análise do perfil de pacientes em serviço especializado
DOI:
https://doi.org/10.25118/2763-9037.2025.v15.1476Palavras-chave:
pessoa em situação de rua, consultório na rua, transtorno relacionado ao uso de substâncias, crack, cracolândiaResumo
Introdução: o uso de substâncias é um desafio em grandes metrópoles, sobretudo em Cenas Abertas de Uso, como a “Cracolândia” em São Paulo. Este estudo teve como objetivo comparar o perfil de pacientes encaminhados pelas equipes do Consultório na Rua (CnaR) com o daqueles que buscaram tratamento espontaneamente em um serviço especializado localizado na "Cracolândia". Método: trata-se de um estudo observacional retrospectivo que analisou prontuários de 9.053 atendimentos no HUB de Cuidado em Crack e Outras Drogas entre Junho de 2024 a Janeiro 2025. Foram coletados dados sociodemográficos, indicadores de uso e de saúde mental. Resultado: o CnaR mostrou-se eficaz em encaminhar uma maior proporção de pessoas em situação de rua (74,22%), provenientes da "Cracolândia" (82,50%) e indivíduos pretos (17,41%) e pardos (55,82%), demonstrando sua capacidade de alcançar grupos de maior vulnerabilidade. Contudo, mulheres não foram adequadamente acessadas. Observou-se que indivíduos encaminhados pelo CnaR apresentaram maior prevalência de crack (81,01%) e maconha (62,42%), enquanto indivíduos que chegaram ao serviço por demanda espontânea, apresentaram maior prevalência de uso de canabinoides sintéticos (20,68%). Não houve, porém, diferença significativa em indicadores de suicídio, abstinência e sintomas psicóticos entre os grupos. Conclusão: os resultados deste estudo indicam que o CnaR tem alcançado grupos diversos em seu trabalho de abordagem e encaminhamento. No entanto, os achados também evidenciam a importância de aprimorar a sensibilidade e a capacidade de acolhimento às mulheres.
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