Consultório na rua e demanda espontânea na “Cracolândia”: análise do perfil de pacientes em serviço especializado

Autores

  • Danilo Silveira Seabra Doutorando, Saúde Coletiva, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0003-1617-1376
  • Clarice Sandi Madruga Professora, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Martha Canfield Pesquisadora, Departamento de Psicologia, Glasgow Caledonian University, Glasgow, UK https://orcid.org/0000-0002-4494-8237
  • Kátia Isicawa de Sousa Barreto Doutoranda, Psiquiatria e Psicologia Médica, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, São Paulo, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2282-1742
  • Kelly Couto Coordenadora, Equipe Técnica, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, SPDM, São Paulo, SP, Brasil https://orcid.org/0009-0004-6675-6879
  • Aline Corrêa de Araujo Gerente de Enfermagem, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, SPDM, São Paulo, SP, Brasil
  • Carmen Miziara Professora, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0002-4266-0117
  • Quirino Cordeiro Professor, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
  • Ronaldo Laranjeira Professor, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.25118/2763-9037.2025.v15.1476

Palavras-chave:

pessoa em situação de rua, consultório na rua, transtorno relacionado ao uso de substâncias, crack, cracolândia

Resumo

Introdução: o uso de substâncias é um desafio em grandes metrópoles, sobretudo em Cenas Abertas de Uso, como a “Cracolândia” em São Paulo. Este estudo teve como objetivo comparar o perfil de pacientes encaminhados pelas equipes do Consultório na Rua (CnaR) com o daqueles que buscaram tratamento espontaneamente em um serviço especializado localizado na "Cracolândia". Método: trata-se de um estudo observacional retrospectivo que analisou prontuários de 9.053 atendimentos no HUB de Cuidado em Crack e Outras Drogas entre Junho de 2024 a Janeiro 2025. Foram coletados dados sociodemográficos, indicadores de uso e de saúde mental. Resultado: o CnaR mostrou-se eficaz em encaminhar uma maior proporção de pessoas em situação de rua (74,22%), provenientes da "Cracolândia" (82,50%) e indivíduos pretos (17,41%) e pardos (55,82%), demonstrando sua capacidade de alcançar grupos de maior vulnerabilidade. Contudo, mulheres não foram adequadamente acessadas. Observou-se que indivíduos encaminhados pelo  CnaR apresentaram maior prevalência de crack (81,01%) e maconha (62,42%), enquanto indivíduos que chegaram ao serviço por demanda espontânea, apresentaram maior prevalência de uso de canabinoides sintéticos (20,68%). Não houve, porém, diferença significativa em indicadores de suicídio, abstinência e sintomas psicóticos entre os grupos. Conclusão: os resultados deste estudo indicam que o CnaR tem alcançado grupos diversos em seu trabalho de abordagem e encaminhamento.  No entanto, os achados também evidenciam a importância de aprimorar a sensibilidade e a capacidade de acolhimento às mulheres.

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Biografia do Autor

Danilo Silveira Seabra, Doutorando, Saúde Coletiva, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

Clarice Sandi Madruga, Professora, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, São Paulo, Brasil

Martha Canfield, Pesquisadora, Departamento de Psicologia, Glasgow Caledonian University, Glasgow, UK

Kátia Isicawa de Sousa Barreto, Doutoranda, Psiquiatria e Psicologia Médica, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, São Paulo, Brasil

Kelly Couto, Coordenadora, Equipe Técnica, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, SPDM, São Paulo, SP, Brasil

Aline Corrêa de Araujo, Gerente de Enfermagem, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, SPDM, São Paulo, SP, Brasil

Carmen Miziara, Professora, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, SP, Brasil

Quirino Cordeiro, Professor, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil

Ronaldo Laranjeira, Professor, Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil

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PMid:28806101 PMCid:PMC6088786

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Publicado

2025-10-17

Como Citar

1.
Seabra DS, Madruga CS, Canfield M, Barreto KI de S, Couto K, Araujo AC de, et al. Consultório na rua e demanda espontânea na “Cracolândia”: análise do perfil de pacientes em serviço especializado. Debates em Psiquiatria [Internet]. 17º de outubro de 2025 [citado 10º de novembro de 2025];15:1-19. Disponível em: https://revistardp.org.br/revista/article/view/1476

Edição

Seção

Artigos Originais

Plaudit