Relação entre diagnóstico psiquiátrico e tipo de crime cometido em doentes em enfermaria de psiquiatria forense
DOI:
https://doi.org/10.25118/2763-9037.2022.v12.405Palavras-chave:
psiquiatria forense, inimputável, eventos adversos da infância, perturbações do uso de substâncias, criminalidade, patologia dualResumo
Introdução: A associação entre criminalidade e transtornos psiquiátricos tem sido amplamente estudada. Os estudos mais recentes mostram que esta associação parece existir apenas nas fases agudas da patologia. Os eventos adversos na infância são um fator de risco para comportamentos violentos e antissociais. Métodos/Objetivos: Foi desenhado um estudo exploratório retrospetivo, incluindo 91 homens e 19 mulheres internados na Enfermaria de Psiquiatria Forense do Hospital e Centro Universitário de Coimbra entre janeiro de 2018 e agosto de 2021 para avaliar a associação entre diagnóstico psiquiátrico e crime cometido. Diferenças de género e eventos adversos na infância também foram avaliados. Resultados: Embora as perturbações psicóticas tenham sido os mais comuns em ambos os grupos, as perturbações do humor foram significativamente mais comuns nas mulheres. 39 pacientes tinham comorbidade com abuso de substâncias, associada a maior prevalência de antecedentes criminais e eventos adversos na infância, mas também a uma menor prevalência de crimes violentos e homicídio. As vítimas dos crimes cometidos eram principalmente do núcleo familiar do doente, com baixa prevalência de crimes cometidos contra estranhos. Os pacientes da amostra também relataram mais eventos adversos na infância do que a população geral. Discussão: Não houve diferenças significativas no tipo de crime considerando o diagnóstico psiquiátrico, mas a comorbilidade com abuso de substâncias associou-se a maior criminalidade, mas a crimes menos violentos. Houve maior prevalência de crimes cometidos contra o núcleo familiar e, principalmente, contra os filhos em mulheres.
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